quinta-feira, 20 de junho de 2013

Poderíamos casar. Não chegaríamos, sequer, perto do exemplo de família perfeita. Teríamos uma apartamento, quem sabe uma casa com jardim e um cão com pelo brilhante. Improvável. Tomaríamos café as cinco da tarde. Você reclamaria do fato de eu ligar o chuveiro horas antes de ir pro banho. Eu, por você ter arranhado meu CD de jogo favorito. Eu não admitiria o quanto você fica bonito bravo e você não diria q lembra da cor do sapato que eu usei quando nos vimos pela primeira vez. Discordaríamos quanto a cor das cortinas. Não arrumaríamos a cama diariamente, beberíamos juntos em algum clube no final de semana. A geladeira seria repleta de congelados e coca-cola, o armário, de porcarias. Adiaríamos o despertador umas trinta e duas vezes só pra ficarmos horas na cama enrolando e falando qualquer besteira.  Te Você me ensinaria alguma coisa sobre futebol, e eu te convenceria a assistir aquele filme no cinema. Sentaríamos na sala de pijama e pantufas, você iria direto para o caderno de esportes no jornal e eu comentaria alguma noticia qualquer. Você saberia o nome do meu perfume, eu saberia onde você largou a última edição da revista de música. Sairíamos pra jantar em algum dia de chuva e não nos importaríamos em chegarmos encharcados. Dormiríamos com o computador ligado. Nos beijaríamos no meio de alguma frase. Você pegaria no sono com a mão no meu cabelo e eu, escutando sua respiração. Eu riria sem motivo e você perguntaria porque, eu não responderia. Saberíamos. Poderíamos casar...


(Caio Fernando de Abreu)